“O (meu) Corpo-Capoeira”

“O Projeto artístico colaborativo aqui proposto tem como objetivo continuar o processo em andamento do ensaio fotográfico intitulado “O (meu) Corpo-Capoeira”, que teve início durante a minha pesquisa de doutorado, e pretende agora envolver outros corpos nessa prática artística cultura afrocêntrica, assim como na experimentação a partir da linguagem fotográfica. A prática da Capoeira Angola é relacional, não acontece sem o outro, e sempre esteve associada à luta por liberdade. As pesquisas realizadas sobre um dos principais mestres de referência dessa arte, o Mestre Pastinha, nos mostram que todo o potencial da capoeira, está na alegria, na vitalidade e na ludicidade do movimento, o que não deixou os africanos escravizados sucumbirem, e hoje, a capoeira se encontra espalhada pelos mais diversos lugares do mundo, nos mostrando a força e a beleza de um corpo em diáspora, que traz em si, no próprio corpo, a cultura e a arte africana e afro-brasileira. Um símbolo de resistência pelo direito de existir, que está muito ligado a uma outra forma de conceber o mundo, que tem como base a cosmovisão africana. Uma prática que tem como um dos principais pilares de sustentação a questão da ancestralidade, a força ancestral presente nesses movimentos, que trouxe “axé” aos corpos negros no período escravocrata brasileiro.

A circularidade é presença na vadiação/movimentos da Capoeira Angola. Não somente na roda de capoeira, como nos próprios movimentos de um corpo que gira sobre seu próprio eixo, fazendo dessa prática uma pedagogia da circularidade e movimento/pensamento de libertação, a partir das ensinagens afro diaspóricas. A circularidade é um princípio da natureza e da existência, que se repete na cosmovisão de muitos povos africanos. “Os pés são com raízes, contaminam os corpos dos atuantes, influenciando todos os movimentos até a cabeça. Neste princípio explora-se a circularidade dos corpos, iniciando a exploração de movimentos nos quadris, reverberando pelo restante do corpo. Algumas comunidades africanas entendem que nos quadris adormece uma energia de criação, justaposta à própria ideia de reprodução através dos órgãos sexuais. Portanto, ativa-se essa região, para que ela abra os portais da criação, da libertação deste corpo “”Pambu Nzila.”

Sentir no corpo, e nesse encontro com o corpo do outro, essa circularidade, e transformar a mesma em imagem, onde o movimento, o rastro desses corpos em movimento é alcançado, um corpo fugaz, em constante trasnformação, sentir esse movimento descolinaza(dor) e expressá-lo em imagem. Enquanto praticante dessa arte há 25 anos, meu corpo sente a necessidade desse movimento para “dar conta” de viver, de ter alegria para suportar as agruras da vida, para dissolvê-las em mim – pela velocidade do movimento, me tornando um corpo “esfumaçado”, inapreensível em imagem, que faz e se desfaz em segundos – fazendo-as se dissiparem ao vento, abrindo espaço para minha animalidade, para a criança que existe em mim, para que a alegria possa penetrar e me curar. Movimento é alegria, e alegria é resistência. Axé!

Estrutura da Oficina/Projeto artístico colaborativo

Processo colaborativo no formato de oficina, com inscrição prévia, e/ou participação para quem quiser se inscrever na hora, com o número máximo de 15 pessoas. O processo será composto pelas seguintes atividades:

1 momento – Apresentação da proposta a partir de relato das minhas duas pesquisas de teses de doutorados, que se complementam, uma na área das Artes e outra na área da Geografia Cultural:

Do Lugar-Entre: corpos e imagens em diálogo no jogo da Capoeira Angola.

Corpo como Lugar: desterritorialização e reterritorialização da semente da Capoeira Angola do Mestre João Grande.

2 momento – Apreciação/diálogo da Obra produzida como resultado do processo de pesquisa de doutorado.

Fotos em filme de Raio-x 4×5′ com a autora representando as duas personagens do jogo de capoeira  em exposição longa de aproximadamente 6 segundos sem interrupção.

3 momento – Atividade de movimentação corporal a partir dos movimentos da Capoeira Angola. A circularidade da roda se encontra também presente nos movimentos e se faz sentir nos corpos-capoeira. Sentir no corpo esses movimentos descoloniza(dores)

4 momento – No cenário proposto, a produção colaborativa de fotografias com câmera de grande formato, usando chapa de raio-x como suporte. Os movimentos da Capoeira Angola como infinitas possibilidades de combinações e expressões desse corpo-capoeira, na interação entre esses corpos, onde a intenção não é congelar o movimento, mas sim colocá-lo em evidência a partir da fotografia.

5 momento – Observação e diálogo sobre as imagens produzidas, e edição das mesmas de forma coletiva, para que fiquem também expostas no local, de preferência sobre uma mesa de luz, local onde as chapas de raio-x com as imagens se destacam melhor, próximo da obra apreciada no início da oficina, ponto de partida da proposição artística colaborativa aqui proposta. Construindo um mosaico com todas as imagens desses “movimentos relacionais” da Capoeira Angola que apresentam infinitas possibilidades de construção/improvisação de movimentos corporais.

6 momento – Para encerrar realização de roda de Capoeira Angola com o Grupo Ginga Erê, onde os participantes da oficina e o público geral presente serão convidados a participar, formando a roda, e/ou experienciado entrar na roda e jogar/vadiar, de acordo com o desejo/intuição dos corpos nessa experiência.